quinta-feira, 11 de agosto de 2011

A falta que faz uma capa


Uma historinha de amor entre amantes da Literatura. Nada de mais, deve acontecer por aí o tempo todo.

     Fim de noite, sexta-feira, a cidade já está quase vazia. Um cara está sentado no metrô –vou contar a história com metrô porque é mais charmoso, mas pode ser no ônibus, na lotação, na perua escolar, sei lá–, cansado depois de um dia de trabalho. Almoçou mal, correu o dia inteiro, teve que ficar na hora extra e perdeu o happy hour com os amigos, essas coisas. Os passageiros em volta deviam ter passado por um dia igual, o vagão todo estava meio apagado.
     Aí então o vagão se ilumina. O vagão se ilumina e não foi porque uma lâmpada preguiçosa que estava apagada decidiu acender, foi porque uma garota acabou de entrar. Bonita na medida, bem vestida, charmosa, com um meio sorriso e uma bolsa colorida de bolinhas. Ela –destino, destino– decide sentar-se ali, de frente para ele.
     Então, a garota abre a bolsa e...

Versão analógica
     ... tira um livro lá de dentro. Nosso amigo reconhece as cores, a foto, o título. A sorte acaba de sorrir para ele: os dois estão lendo o mesmo livro.
     Ele procura rápido na mochila e saca o livro também, faz questão de segurar de um jeito que todos possam ver a capa. A garota levanta os olhos, curiosa, para ver o que ele está lendo e... Bingo! O meio sorriso vira um sorriso inteiro. É a deixa.
     Os dois conversam, ele troca para o banco dela, acaba descendo uma estação antes só para acompanhá-la até em casa. No dia seguinte foram à livraria ver as novidades, passaram o fim de semana juntos e o resto vocês já sabem: acabaram juntando as bibliotecas e vivendo felizes para sempre.

Versão digital
     ... tira um Kindle lá de dentro. Ela está lendo o mesmo livro que ele, mas nosso amigo não tem como saber: só vê a parte de trás do aparelhinho.
     Sem saber como puxar papo, ele saca da mochila o iPad, para passar o tempo. A garota levanta os olhos, curiosa, para ver o que ele está lendo e... Só vê uma estampa de maçã. O meio sorriso continua meio. Nada de deixas.
     Não conversam. Ela desce numa estação, ele fica na seguinte. No dia seguinte, cada um baixou um livro novo, cada um na sua casa, e o resto vocês já sabem: passaram o fim de semana na Internet. Além do mais, nem daria para juntar as bibliotecas mesmo, porque tem arquivo que nem é compatível. 

PS: recebi por email, mas o texto é de Bruno Palma e Silva (http://acepipesescritos.blogspot.com)

2 comentários:

  1. Sensacional!!
    Sou a versão analógica disparado.Até porque,apesar das novas tecnologias,não creio que as demais artes deixem de existir.Todas coabitam em igualdade de condições conforme os gostos de seus apreciadores.
    Gostei demais da partilha,amica.
    Bjinhos,
    Calu

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  2. Hahahaha

    Mas eu ainda prefiro o kindle!

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